Brasil termina o ano em alta
17 janeiro 2024
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Insights mensais sobre ações de mercados emergentes de David Semple, Gerente de Carteira, e Ola El-Shawarby, Gerente Adjunto de Carteira, apresentando seus pontos de vista exclusivos sobre os mercados emergentes.
No quarto trimestre de 2023, as ações dos mercados emergentes prolongaram em grande parte as tendências observadas ao longo do ano. As regiões de Taiwan, Índia e Coreia do Sul impulsionaram os retornos de referência, enquanto a China registou um desempenho inferior.
Os mercados emergentes registaram um desempenho positivo como um todo, impulsionado pela nova classificação da avaliação e pela força da moeda. Tal como observado em comentários anteriores, as avaliações dos mercados emergentes continuam a ser um foco. Os valores preço-conta das ações dos mercados emergentes subiram no quarto trimestre e estão um pouco abaixo das médias de 15 anos, mas o diferencial de avaliação entre os mercados emergentes e os mercados em desenvolvimento permanece muito abaixo do seu intervalo histórico.
A Reserva Federal (FED) dos EUA continua em pausa para futuros aumentos, com a reunião de dezembro tendo sido pacífica. Um FED acomodatício é possivelmente um bom presságio para as ações dos mercados emergentes, que beneficiariam dos ventos favoráveis da moeda se o dólar continuasse a cair. O dólar caiu ao longo do 4º trimestre, e o esperado é que continue em baixa se o FED começar a implementar potenciais cortes em 2024.
Desempenho da estratégia
O Brasil continua sendo o país com maior sobreponderação da Estratégia (14,1% para a estratégia, 5,5% para o peso médio do índice de referência durante o trimestre). A alocação e seleção de ações da estratégia no Brasil foram os maiores contribuintes para o desempenho relativo, tanto no 4º trimestre como em todo o ano.
O país com maior exposição da estratégia, a China, contribuiu negativamente tanto numa base absoluta como relativa para o 4º trimestre.
Revisão da estratégia
A nível setorial, os setores Industrial, Financeiro e Imobiliário contribuíram para o desempenho relativo, enquanto os setores de Tecnologia da Informação, Consumo Discricionário e Saúde foram detratores. A nível nacional, o Brasil, o México e as Filipinas contribuíram para o desempenho relativo, enquanto a região de Taiwan, a Turquia e a África do Sul foram detratores.
Principais contribuintes
Principais contribuintes para o retorno da estratégia em termos absolutos durante o trimestre:
- JSL S.A. (“JSL”) (3,6% do patrimônio líquido da estratégia*): Como maior plataforma logística do Brasil, a JSL apresentou forte desempenho neste trimestre, marcado por melhorias operacionais e esforços bem-sucedidos de reprecificação. A aquisição da IC Transportes e a gestão eficaz da inflação contribuíram positivamente para as suas finanças. Com novos contratos sendo continuamente assegurados, a JSL solidifica sua liderança de mercado. As recentes aquisições apresentam oportunidades significativas para melhorias nas margens, e o esperado é que a empresa mantenha o seu dinamismo após os impressionantes resultados trimestrais.
- MercadoLivre (“MELI”) (5,3% do patrimônio líquido da estratégia*): MELI, plataforma líder de comércio eletrônico na América Latina, também está fazendo avanços significativos em fintech. O desempenho da empresa neste trimestre superou as expectativas, com ganhos significativos de participação de mercado no Brasil e rápido crescimento das receitas no México, apesar dos novos concorrentes. Contrário às expectativas de pressão nas margens devido a investimentos pesados, os fortes volumes de vendas levaram a uma alavancagem operacional substancial, diluindo os custos. O MELI continua investindo em logística, e os números de vendas da Black Friday do 4º trimestre de 2023 indicam um crescimento sustentável.
- Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (“TSMC”) (7,1% do patrimônio líquido da estratégia*): Após um período de revisões para baixo dos lucros, a TSMC relatou resultados melhores do que o esperado no 4º trimestre (3º trimestre do ano fiscal de 2023). A orientação prospectiva sugere uma recuperação na demanda, com um forte crescimento de vendas unitárias previsto para 2024 e 2025. Espera-se que a TSMC, com seu foco em litografia de ponta avançada e chips de IA, recupere sua vantagem competitiva, especialmente contra a Intel. As perspectivas de crescimento da empresa permanecem fortes, justificando a sua posição significativa no portfólio.
Principais detratores
Principais detratores para o retorno da estratégia em termos absolutos durante o trimestre:
- China Education Group (1,8% do patrimônio líquido da estratégia*): Embora ainda demonstre um sólido crescimento das receitas, resultante de uma combinação de crescimento orgânico no número de estudantes e aumentos nas mensalidades, o crescimento tem sido modestamente abaixo do consenso. Além disso, a ausência de notícias sobre fusões e aquisições teve um impacto negativo no preço das ações.
- Wuxi Biologics (0,9% do patrimônio líquido da estratégia*): A empresa reviu em baixa as suas expectativas de crescimento das receitas devido ao financiamento mais fraco para os seus clientes e aos atrasos regulamentares. Contudo, as perspectivas no longo prazo para a externalização da investigação biológica continuam positivas.
- Chroma Ate (1,1% do patrimônio líquido da estratégia*): Confrontado com pressões de procura em indústrias-chave, como baterias para veículos elétricos e inversores solares, o preço das ações da Chroma caiu. A empresa, que opera em um nicho de mercado, é afetada por fatores como a integração retroativa dos fabricantes de veículos elétricos e as pressões geopolíticas sobre os módulos solares.
Principais compras e vendas
No período, estabelecemos novas posições nas seguintes áreas:
- Galaxy Entertainment Group (0,4% do patrimônio líquido da estratégia*): Reiniciamos o nosso investimento no Galaxy Entertainment Group, uma das seis concessionárias de jogos em Macau. As perspectivas da empresa parecem promissoras, devido a uma recuperação robusta nas receitas de visitantes e jogos, que recentemente superaram as expectativas. A Galaxy Entertainment está bem posicionada para aumentar a sua participação no mercado, apoiada por uma expansão na capacidade e um histórico comprovado de operações bem-sucedidas.
- BYD Co (0,5% do patrimônio líquido da estratégia*): Como fabricante líder mundial de veículos elétricos movidos a bateria em volume, a BYD Co tem enfrentado desafios no preço das ações devido às pressões sobre os preços e ao aumento do estoque. Apesar dessas questões, acreditamos que a atual avaliação baixa da empresa reflete adequadamente essas preocupações. Além disso, é esperado que a BYD se beneficie do lançamento do seu novo ciclo de produtos este ano.
No período, saímos das seguintes posições:
- Zhejiang Huayou Cobalt Co, Ganfeng Lithium Group, Hoyuan Green Energy Co (não detido pela estratégia): Reduzimos significativamente o nosso investimento nessas empresas, que estão focadas em materiais renováveis upstream. Prevemos uma pressão contínua sobre os preços das suas ações, devido ao excesso de capacidade cíclica no mercado. Nós prevemos uma possível recuperação dos preços das suas ações no futuro. No entanto, a nossa estratégia atual é permanecer à margem.
- Doosan Fuel Cell Co (não detido pela estratégia): Nossa decisão de desinvestir na Doosan Fuel Cell Co foi influenciada por atrasos no avanço dos projetos de energia de hidrogênio. Apesar da posição vantajosa da empresa para se beneficiar dos desenvolvimentos do setor, as perspectivas econômicas incertas em comparação com outras fontes de energia, as condições desafiadoras de financiamento do projeto e a elevada valorização fizeram com que deixássemos este investimento para trás.
Oportunidades nos mercados emergentes
Atualmente, estamos observando vários desenvolvimentos promissores que poderão beneficiar a ampla classe de ativos dos mercados emergentes:
Tendências de inflação decrescente: No mundo todo, a inflação tem registado um declínio notável, afetando tanto os mercados emergentes como os desenvolvidos. Uma diminuição contínua da inflação nos EUA poderá levar o FED a adotar uma postura mais pacífica. Isso poderá levar a cortes mais significativos nas taxas de juros e deixar o dólar mais fraco, influenciando positivamente as moedas dos mercados emergentes e os retornos baseados em dólares americanos nas ações desses mercados. É curioso notar que os mercados emergentes precedem frequentemente o FED nas tendências da política monetária, e já assistimos a cortes nas taxas em vários países emergentes durante a segunda metade de 2023.
Recuperação econômica da China: Nos últimos dois anos, a economia interna da China tem sido um obstáculo para o segmento mais amplo dos mercados emergentes devido a vários fatores, tais como elevadas taxas de poupança dos consumidores, tensões geopolíticas, diminuição da procura pela sua indústria e desafios imobiliários. Porém, existe potencial para a melhora. Se a China estimular com sucesso os gastos dos consumidores e reduzir a sua dependência do setor imobiliário, poderá gerar um impulso significativo ao maior interveniente na esfera dos mercados emergentes.
Estabilizando o clima geopolítico: Os últimos dois anos foram geopoliticamente turbulentos, com acontecimentos como o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, tensões entre a China e a região de Taiwan e novos conflitos no Oriente Médio. Qualquer resolução ou desescalada dessas tensões poderia aumentar significativamente a confiança dos investidores nos mercados emergentes. Além disso, as eleições nos principais mercados emergentes, como a Índia, a região de Taiwan e o México, em 2024 poderão gerar resultados favoráveis ao mercado, possivelmente impulsionando movimentos de mercado positivos.
Riscos de mercados emergentes
Atualmente, estamos monitorando vários riscos que podem prejudicar a ampla classe de ativos dos mercados emergentes:
Atraso ou reversão do ciclo antecipado de flexibilização das taxas nos EUA e/ou mercados emergentes. Embora os EUA estejam atualmente em pausa e alguns países emergentes tenham começado a abrandar, é possível que os cortes nas taxas de juros previstos pelo mercado não se concretizem. Isso poderá acontecer se a inflação começar a subir nos EUA ou no exterior e, muito provavelmente, levaria a um cenário semelhante à 2022: um dólar americano forte e retornos fracos das ações dos mercados emergentes.
Tensões geopolíticas e eleições. Caso essas situações se agravem ou permaneçam sem solução, poderão afetar negativamente a confiança dos investidores nos mercados emergentes. O aumento dos riscos geopolíticos pode levar à volatilidade do mercado, impactando os investimentos nessas regiões. As próximas eleições nos principais mercados emergentes em 2024, notavelmente Índia e México, trazem um certo grau de incerteza. Se as eleições resultarem em políticas ou administrações menos favoráveis ao mercado, isso poderá levar a reações negativas do mercado. As mudanças políticas podem influenciar significativamente as políticas econômicas, os ambientes regulamentares e os fluxos de investimento estrangeiro, todos eles cruciais para a saúde e a estabilidade dos mercados emergentes.
Aumento na tensão entre EUA e China. A relação EUA x China, marcada por disputas comerciais e tecnológicas, desempenha um papel significativo na definição da dinâmica econômica global, com a questão da região de Taiwan acrescentando uma dimensão crítica a esse cenário já complexo. A região de Taiwan, como um importante interveniente tecnológico e um ponto estratégico de discórdia entre os EUA e a China, é central para essas tensões. As repercussões dessa relação tensa são de grande alcance, impactando as cadeias de abastecimento e causando volatilidade que se estende aos mercados emergentes, particularmente na Ásia. Esses mercados, muitas vezes intrinsecamente ligados às economias dos EUA e da China, enfrentam os riscos de perturbações na cadeia de abastecimento, mudanças políticas e flutuações cambiais. A incerteza em torno das relações entre EUA e China, especialmente no que diz respeito à região de Taiwan, aumenta a cautela dos investidores, levando a potenciais saídas de capital e volatilidade nos mercados emergentes, destacando a importância de os investidores permanecerem vigilantes e informados sobre essas dinâmicas internacionais.
Posicionamento e perspectivas da estratégia
Continuamos alicerçados no processo de investimento, e o nosso posicionamento reflete as nossas convicções de baixo para cima rumo ao novo ano. Nosso processo criou alguns diferenciais de posicionamento em relação ao benchmark. O Brasil permanece sobreponderado no início do trimestre (peso da estratégia de 15,1% versus peso do índice de 5,8%), assim como as Filipinas (peso do índice de 5,0% versus 0,6%).
A Coreia do Sul, a região de Taiwan e a China estão subponderadas em relação ao valor de referência.
O objetivo da estratégia é encontrar empresas de crescimento estrutural no longo prazo a preços justos (S-GARP). Os investimentos são escolhidos com base na análise individual da empresa, com foco na qualidade, governança, modelos de negócios inovadores e baixo risco de disrupção, com gestão ativa e pesquisas detalhadas orientando nosso processo de seleção.
* Todas as ponderações de países e empresas são de 31 de dezembro de 2023. Qualquer menção a um título individual não é uma recomendação de compra ou venda do título. Os fundos imobiliários e participações podem variar.
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